Valorização do dólar já afeta as importações

A escalada do dólar, que apenas em setembro subiu 16%, combinada com o sobe e desce das cotações nos últimos dias já paralisa parcialmente as importações de alguns setores da economia, principalmente daqueles que estão estocados e que podem esperar para ver se em qual patamar a moeda vai se acomoda. Sem uma definição mais clara sobre qual será o novo ponto de equilíbrio do câmbio, em meio à volatilidade causada pelas indefinições que cercam a crise internacional, as empresas já postergam o fechamento de operações com fornecedores lá fora.

– Entre 20% e 30% das nossas operações de câmbio estão adiadas, porque o cliente quer esperar para ver o que vai acontecer com o dólar. A maioria dos nossos clientes, no entanto, importa insumos e não pode deixar de operar – diz Roberto Milani, vice-presidente comercial da Comexport, trading brasileira que opera tanto com exportação de commodities quanto na importação de insumos e bens industrializados.

Já a Êxito Import, outra trading, teve de espremer suas margens para manter os preços dos produtos que importa (caminhões, guindastes e escavadeiras) da China. A estratégia é manter o preço final para os clientes e se aproveitar do estoque, de 300 máquinas, disponível nas 23 revendas da companhia. José Lacy, presidente da Êxito, diz que períodos de muita volatilidade, como o atual, afetam mais duramente os importadores mais endividados em dólar.

– No nosso caso, pagamos sempre à vista e não temos dívida em dólar. O que eu vendo está pago. Nunca aumentamos o preço por causa de dólar, nem quando chegou a R$2,43 em 2008, porque temos um estoque alto.

Aumento súbito do dólar prejudicou alguns setores

Mas nem todos os importadores desfrutam dessa condição. As indústrias, em especial as que trabalham com estoques reduzidos e dependem de matérias-primas importadas, são as mais atingidas por altas repentinas do dólar.

O diretor de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, observa que, embora a apreciação do dólar seja um desejo de todo o setor produtivo, sua valorização muito rápida prejudicou alguns setores.

– As indústrias química e farmacêutica, que trabalham com matérias-primas importadas, exportam pouco e têm dívida em dólar foram prejudicadas pelo aumento dos custos. Em compensação, houve um alívio da concorrência com produtos importados no mercado interno – diz.

Milani, da Comexport, ressalta que, no caso do varejo, a maioria das redes já tinha fechado os contratos de importação de produtos para o Natal antes da disparada do dólar. Mas os “desprevenidos”, que deixaram para comprar agora, segundo ele, vão sentir os impactos do câmbio alto.

A expectativa, tanto da indústria quanto das tradings, é que o dólar venha a se estabilizar mais adiante. Milani crê que a moeda americana vai ficar num meio termo numa faixa de R$1,70 a R$1,80. Gianetti já vê o dólar se acomodando num nível um pouco mais alto, entre R$1,80 e R$1,90 agora, caminhando para os R$2 ao longo de 2012.

– Isso será bom para a indústria de bens intermediários, que sofria com a concorrência dos importados e que a partir de agora vai poder voltar a investir – afirma Gianetti.

Fonte : Site Sindiex