Empresas querem tirar Praia Mole da briga por superporto
ArcelorMittal, Gerdau, Vale e Usiminas fizeram pedido aberto ao presidente da Codesa para que o porto de águas profundas pleiteado pelo Espírito Santo não seja sediado em Praia Mole
Em documento obtido com exclusividade por A GAZETA, as empresas ArcelorMittal, Gerdau, Vale e Usiminas fizeram pedido aberto ao presidente da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), Clovis Lacosque, para que o porto de águas profundas pleiteado pelo Espírito Santo não seja sediado em Praia Mole.
Essas quatro companhias são gestoras, em modelo de condomínio, do Terminal de Produtos Siderúrgicos (TPS) e utilizam o porto para escoar sua produção.
A carta, datada de 9 de outubro último e com protocolo de recebimento da Codesa, confirma as pressões já relatadas reservadamente pela bancada federal capixaba e já é inclusive de conhecimento do ministro da Secretaria Nacional de Portos, Leônidas Cristino.
“Tal empreendimento, se direcionado para a região de Tubarão, Praia Mole ou suas adjacências, implicará em severas interferências aos planos de expansão das empresas atualmente instaladas nessa região”, afirma o documento.
Depois de outras cidades do Estado descartadas por estudos de viabilidade, Praia Mole disputa hoje com Ponta da Fruta, em Vila Velha, o destino do porto de águas profundas.
O imbróglio deve impedir que hoje, no anúncio oficial do pacote dos portos, a presidente Dilma Rousseff apresente o local escolhido pelo governo federal para instalar o empreendimento. O governador Renato Casagrande (PSB) já havia confirmado o adiamento do anúncio do local escolhido, tendo atribuído o fato à não conclusão dos estudos.
Preocupações
Na carta, as empresas apresentam várias “ponderações” e “preocupações” para sustentar seus argumentos. Uma delas é que a instalação do projeto em Tubarão, Praia Mole ou adjacências “implicará definitivamente” em perda de oportunidade de se implantar uma moderna infraestrutura portuária capaz de alavancar no Estado novas unidades industriais com o recebimento de matérias-primas, na produção e no escoamento de bens pelo porto.
Os grupos empresariais ainda salientam “os impactos negativos” que o projeto traria ao parque industrial hoje instalado na região, onde as empresas exploram “de forma harmônica e limitada” a infraestrutura comum de negócios nos segmentos de pelotização, siderurgia, cimento e operações portuárias.
“Uma decisão equivocada quanto ao local a ser instalado esse importante projeto inviabilizará o alcance de seus principais objetivos, que são desenvolver e solucionar os gargalos de logística no Estado e alavancar novos investimentos”, reforça a carta.
A instalação do, segundo as empresas, perderá seu efeito “desenvolvedor” se não promover o desenvolvimento econômico equilibrado entre as regiões do Estado; diversificar e agregar valor à produção; e também alcançar eficiência, integração e acessibilidade do sistema logístico.
Ponta da Fruta
A região para receber o empreendimento em Vila Velha fica próximo a Interlagos. O município alega que a implantação no local é uma ótima oportunidade para direcionar os investimentos para a área sul da Grande Vitória.
Praia Mole
Região na Serra é até apontada como favorita por alguns setores econômicos e fontes. Áreas próximas são largamente utilizadas para projetos das grandes companhias do Estado, o que vem gerando resistências.
Serra vai lutar para ter as obras
Prefeito eleito da Serra, o deputado federal Audifax Barcelos (PSB) admite a pressão contrária, mas reitera que não abrirá mão da instalação do porto de águas profundas em Praia Mole. “Se prevalecer o interesse público, o porto ficará em Praia Mole; se valer o interesse privado, vai para Ponta da Fruta. Estou entrando na batalha como prefeito e entendo que o porto tem que ser na Serra por várias razões, a começar pelo impacto ambiental zero, e que em Vila Velha seria enorme”, frisa.
Audifax apontou as vantagens estratégicas da instalação da Serra ao ministro dos Portos, Leônidas Cristino.
Algumas delas: região industrial já consolidada; custo de investimento inferior ao de Ponta da Fruta, pois não precisaria de berços; retroárea já existente no Tims (Terminal Intermodal da Serra); ferrovia próxima; e BR 101
a três quilômetros.
Cristino também sabe de reações contrárias de segmentos de Vila Velha à instalação do porto e, segundo Audifax, está ciente do pedido das quatro empresas feito à Codesa, que contratou os estudos de viabilidade do superporto.
“Em Vila Velha é necessário fazer um píer de todo tamanho. Na Serra o investimento será um viaduto na BR 101”, afirma o prefeito eleito.
Trabalhadores defendem projeto e atacam companhias
O coordenador da Intersindical da Orla Portuária do Espírito Santo, José Adilson Pereira, respondeu à carta das empresas que rejeitam a construção do superporto em Praia Mole. Em um dos trechos do documento que enviou, ele afirma que “as empresas faltam com a verdade ao afirmarem que a instalação do porto público implicará em severas interferências aos planos de expansão das empresas atualmente instaladas nessa região”.
Explica que a Vale está no limite de expansão com a 8ª usina pelotizadora e os projetos de crescimento da siderúrgica “são distantes da área onde está previsto o porto”. Os trabalhadores, prossegue a resposta, “não podem aceitar que sejam erguidas barreiras ao desenvolvimento dos portos públicos”.
Os argumentos expostos pelas empresas, argumentam os trabalhadores, merecem “uma vigorosa resposta republicana pelos entes governamentais, pacificando de vez a questão da localização da expansão do porto público naquele sítio”. Os trabalhadores portuários, não é novidade, defendem a construção do superporto em Praia Mole.
O coordenador da Intersindical contesta os argumentos apontados pelas empresas que gerencial o Terminal de Produtos Siderúrgicos (TPS). “Se antes, infundadamente, o argumento do acesso rodoviário foi o principal gargalo ao projeto de expansão, esvaziado com o projeto do Arco Metropolitano, elaborado pela Prefeitura da Serra voltado ao desenvolvimento de gigantescas áreas retroportuárias, agora, sem onde se amparar, levantam pífios argumentos baseados em teses de geografia econômica já ultrapassada”.
Na resposta às empresas, os trabalhadores enfatizam: “Argumentam que, caso o projeto se instale em Praia Mole, este irá concentrar as atividades econômicas na Grande Vitória e, consequentemente, desequilibrar os desenvolvimento entre esta, o interior e o litoral do ES e, também, entre as demais cidades”. (Rita Bridi)
Fonte: A Gazeta
Fonte : Site Gazeta Online